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Arquitetos: Daniela Amoroso
- Área: 500 m²
- Ano: 2012
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Fotografias:PierMario Ruggeri
Matera é uma das cidades mais antigas do mundo e seu território possui vestígios de assentamentos humanos dos tempos paleolíticos.
O bairro Sassi, Patrimônio da Humanidade, é o núcleo urbano original da cidade e, baseado originalmente em cavernas naturais, ele tem se estendido ao longo dos milênios convertendo-se em estruturas ainda mais complexas. Uma intricada rede de ruas, becos, pátios interiores e bairros observados do alto pelas casas de todos os tamanhos, antigas muralhas de defesa, torres, armazéns, bodegas e cisternas. Um sistema escavado e construído que nunca acaba.
No coração do bairro Sassi, uma estrutura abandonada em desuso que data o século XVII. C e o que rodeia o pátio interior foi restaurada e reinventada para ser convertida em novos espaços de um hotel.
Contaminações arquitetônicas inúteis e camadas de pavimentação foram eliminadas, deixando aparente o trabalho de pedra toba original, arrematado com abóbodas: a estrutura histórica vem à tona como uma evidência arquitetônica para confrontar e dialogar. Nessa busca pela essência, pelo autêntico, pelo espaço puro e de acesso livre, podemos reconhecer o espírito Wabi concebido pelo belga Axel Vervoordt.
Os lugares históricos, cheios de uma identidade atrativa, combinam a comodidade e o design refinado e elegante com harmonia e precisão.
Convertidas em elegantes quartos de hotel, os antigos cômodos do térreo têm contato direto com um pátio interior que, graças a um longo e preciso trabalho de restauração, são caracterizados por uma pavimentação de pedra original chamada de "a chiancarelle”.
Iluminado à luz de velas durante a noite, o pátio torna-se muito aconchegante e íntimo, dando uma sensação de proteção.
Desde a entrada na Via B. Buozzi, os visitantes são recebidos como em uma casa particular numa recepção elegante e acolhedora, mobiliada com elegância, através da qual é possível acessar o pátio privado.
Os dormitórios situados em volta do pátio são rigorosamente monocromáticos, caracterizados por castanheiros de tom marrom, do bege da pedra até o marrom da madeira e do aço exterior. A pavimentação de pedra com a sua cor natural se converte em muro, tetos e bancos.
A constante busca por uma conexão entre as distintas salas interiores e a paisagem é a base dessa combinação de pedra local, madeira e ferro em cada dormitório com diferentes proporções de acordo com um desenho linear e essencial. Elementos simples combinados à um estilo característico da região se tornam leves e modernos.
As cortinas de linho nas portas de entrada, habilmente feitas à mão, permitem que entre uma luz brilhante até a primeira área de cada quarto dedicada a sala de estar e relaxamento, enquanto os seguintes espaços privados, escavados na pedra, se deixam iluminar por claraboias nas abóbodas. Essas pequenas aberturas zenitais permitem a entrada de feixes de luz para alternar com as grandes zonas íntimas e escuras.
Os arcos de pedra toba levam aos banheiros, espaços íntimos e acolhedores, destacados por nichos e cavidades que agora contêm grandes banheiras de pedra ou duchas.
O desenho interior baseia-se em móveis de época restaurados e utensílios típicos. Natureza e objetos desgastados pelo tempo se adaptam perfeitamente em cada quarto através de diversos elementos de mobiliários: bancos antigos feitos em castanheiro centenário se transformam em portas, estantes ou mesas; estruturas de antigas cadeiras convertem-se em toalheiros e troncos de árvores se tornam banquetas ou mesas de cabeceira.
Todo o hotel desenvolve-se horizontalmente em volta de uma área, o pátio, que se caracteriza por pequenas diferenças de nível e é rodeado por cinco quartos, a sala de recepção e a sala do café-da-manhã, em um antigo sistema típico que deixa aparente toda a estrutura.
Abaixo do hotel, no subsolo, existem oito cisternas em forma de sino, uma evidência do antigo sistema para a coleta das águas pluviais e um excelente exemplo de sustentabilidade. As águas da chuva circulam através de calhas, tubos de drenagem e canalizações até as cisternas conectadas aos dormitórios. As cisternas podem ser visitadas através de estreitas passagens internas. Atravessando o silêncio mutável de uma caverna e adaptando-nos a estes ambientes escuros é como submergir em outra dimensão, onde é possível aproveitar o sentido mais profundo e ancestral desses lugares, dessa terra. É um lugar que alimenta as nossas almas e nos faz sentir um grande bem-estar.